segunda-feira, 9 de agosto de 2010

http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2010/08/09/bndes-deve-respeitar-as-criticas-prestar-contas-314770.asp


Enviado por Míriam Leitão -
09.08.2010 / 14h18m
BNDES deve respeitar as críticas e prestar contas

O BNDES tem 56 anos, é uma instituição importante, já errou muito no passado e sabe o que não deve repetir. As críticas não são contra o banco, que sempre financiou a indústria brasileira, fornecendo capital mais barato que o dos bancos, em alguns momentos, com grande subsídio, mas contra determinadas políticas.

Nos anos 70, deu empréstimo com correção monetária abaixo da inflação, o que produziu transferência de riqueza de toda a nação para alguns grupos que nem existem mais. As empresas não tinham viabilidade, mas o BNDES achava que ao fazer isso estava garantindo o futuro da economia brasileira, quando, na verdade, estava concentrando renda.

Esse tema da transferência de dinheiro para alguns grupos já virou até tese de mestrado, foi analisado. No governo militar, o BNDES achava que tinha de escolher quem ia liderar cada setor - escolha de campeões, mas essa política foi um desastre. Várias empresas quebraram, outras, como a Embraer, deram certo, após novas capitalizações.

Nos últimos tempos, o que se viu foi o BNDES voltando com muita sede ao pote velho, das políticas extintas porque não funcionaram. O país deve discutir isso, já que o dinheiro do banco é público. Agora, mais ainda, porque o Tesouro fez uma transferência de R$ 180 bilhões ao BNDES. Por isso, a população tem o direito de querer mais transparência e entender melhor essas políticas.

Só para dar uma ideia: nos últimos dias, a Folha publicou que 57% dos recursos do BNDES foram apenas para 12 empresas, sendo duas estatais. A maioria dos outros dez grupos tem negócios com o governo, está fazendo obras. Será que é isso mesmo que tem de ser feito? Outra notícia que está no Estadão fala do favorecimento do frigorífico JBS Friboi. Ao todo, dois frigoríficos receberam quase completamente o valor dado ao setor (R$ 18,5 bilhões). Matéria da Folha de hoje mostra também que 14 empresas apenas ficaram com a totalidade do dinheiro daquela linha de capital de giro criada para socorrer as companhias no auge da crise.

Por tudo isso, o país está debatendo o papel do BNDES, as escolhas do banco nesse momento. Aí, os empresários soltaram na quinta-feira um manifesto em defesa do banco. Mas os críticos não fazem um ataque ao banco, mas a determinadas políticas que já deram errado. A reação às críticas tem sido de politizar o debate, em vez de aumentar a transparência do banco.

Ninguém fala no fim do BNDES, mas de se rediscutir políticas, porque é o nosso dinheiro que está lá. O banco tem de respeitar as críticas e prestar contas.

Ouçam aqui o comentário na CBN

quinta-feira, 29 de julho de 2010

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/774462-cai-em-80-numero-de-bolsas-de-doutorado-integral-no-exterior.shtml

Cai em 80% número de bolsas de doutorado integral no exterior

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RICARDO MIOTO
ENVIADO A NATAL

Fazer doutorado em uma grande universidade estrangeira com bolsa de uma instituição brasileira é um sonho cada vez distante para os estudantes do país.

Segundo dados apresentados na conferência da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Natal, entre 1992 e 2007 o número de bolsas do CNPq no exterior caiu de quase 2.800 para cerca de 500 --um tombo de mais de 80%.

Já o doutorado-sanduíche, em que o aluno fica parte do curso fora do Brasil, teve um ligeiro crescimento no período. Hoje há cerca de 5.000 alunos na modalidade.

Desde 2007, as bolsas integrais recebem menos dinheiro do CNPq do que as chamadas bolsas-sanduíche.

"Foi um decréscimo exagerado. Os programas de bolsas no exterior ficaram suprimidos, é preciso corrigir isso", diz Carlos Aragão, presidente do CNPq.

"Conforme vão aparecendo novos programas de pós-graduação no Brasil, os estudantes que antes sairiam ficam por aqui. Mas o país tornou isso uma regra", afirma.

CONTATOS

Ele lembra que é bom ter brasileiros fora do país para criar, além da rede de contatos, um fluxo de ideias entre o Brasil e o exterior."É importante ter estudantes que vão para o exterior. Quando voltam, trazem oxigênio para o sistema."

O próprio Aragão fez doutorado nos Estados Unidos, no final dos anos 1970. "Criei uma relação com a Universidade Princeton, onde estudei, que é para sempre. Bolsas no exterior são fundamentais para estabelecer parcerias duradouras."

A internacionalização da ciência brasileira foi tema de debate em Natal e, segundo Aragão, é prioridade para o CNPq, que planeja trazer estrangeiros para os comitês que avaliam os projetos submetidos ao órgão.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2010/07/21/risco-bndes-coluna

Risco BNDES / coluna

21/07/2010

Economia

Miriam Leitão

O BNDES hoje representa um orçamento paralelo. Ele financia empreendimentos que, na prática, são estatizados, escolhe que empresas devem crescer e as subsidia através do endividamento público. O que precisa ficar claro é que o banco sempre subsidiou empresários, mas a natureza do banco mudou. A escala é maior, a origem do seu dinheiro é outra, e o destino é cada vez mais discutível.

Tudo se passa assim: o governo transfere dinheiro para o BNDES através de supostos “empréstimos”.

Como teoricamente são empréstimos, não entram na dívida líquida. Na prática isso passou a ser uma das principais fontes de financiamento do BNDES.

Antes, o funding do banco era principalmente recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do retorno dos empréstimos que haviam sido concedidos. Nos últimos anos, o Tesouro passou a encher os cofres do banco como uma capitalização travestida de empréstimo.

Só que o Tesouro se endivida a juros crescentes e em dívida de curto prazo. E o banco empresta a juros baixos e prazos longos.

Alguns dos grandes beneficiários dos empréstimos do banco são empreendimentos que o governo está apressando, na parte final do mandato, para servirem de vitrine eleitoral, como a hidrelétrica de Belo Monte, e, futuramente, o trem-bala. A maioria do empreendimento fica nas mãos do governo ou de fundos de pensão das estatais. É do governo o risco, portanto.

As empresas privadas, sócias nesses projetos, terão a vantagem de estarem em obras sem risco. E elas ainda conseguem empréstimos do BNDES para esses e outros negócios que têm interesse. O BNDES com capital que veio de endividamento público — só nos últimos dois anos foram R$ 180 bilhões — empresta para o próprio setor público ou para seus sócios diletos.

Há outra forma de atuação do banco que levanta legítimas preocupações: a reinvenção da ideia de criar “campeões nacionais”.

Dar empréstimos gigantes para empresas para que elas se tornem grandes no mundo em seus setores. Em entrevista ao “Estado de S. Paulo” no domingo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que tinha “até vergonha de o país não ter grandes empresas em setores que é competitivo.” Um desses setores a que ele se refere certamente é o de frigoríficos para o qual o banco tem aprovado empréstimos extravagantes. O JBS Friboi recebeu empréstimos de R$ 7,5 bilhões. Só de uma vez, o JBS fez um lançamento de R$ 3,47 bilhões em ações e o BNDES subscreveu 99,9% das ações vendidas. A família dona da empresa subscreveu os restantes 0,05%. E tanto dinheiro era para comprar a Pilgrim’s Pride Corporation, com a justificativa de ajudar o processo de “internacionalização da empresa”. Ou seja, financiar o frigorífico para ele comprar uma empresa no exterior. Em vários desses casos, o banco entrou também como sócio, subscrevendo ações das empresas. Fez isso também com a Marfrig: comprou debêntures da empresa para que ela tivesse capital e comprasse empresas nos Estados Unidos e na Irlanda. No pior caso no setor de carne, o BNDES comprou ações num total de R$ 250 milhões da empresa que logo depois entrou com um processo de falência, o Independência.

A vergonha não é não ter um grande frigorífico nacional comprando empresas no exterior, mas sim o fato de que eles precisem tanto de anabolizante estatal para crescer.

Pior, os frigoríficos brasileiros não conseguiram demonstrar que não compram carne de área desmatada. Ao final de seis meses do pacto feito com ONGs e empresas importadoras de produtos brasileiros, esses grandes frigoríficos pediram mais seis meses para comprovar se seus fornecedores são ou não de área desmatado.

Isso sim é vergonhoso.

Essa forma de atuação do BNDES recria dois vícios do passado. O Estado decidindo que empresa deve ser grande, e um banco público liderando um processo que na prática é expansionismo fiscal.

Isso acaba impactando também a política monetária porque entrará no cenário do Banco Central em sua análise para decidir sobre a elevação da taxa básica de juros.

Quando a diretoria tomar a decisão hoje na reunião do Copom, ela vai considerar, de um lado, os sinais benignos da economia brasileira, de redução da inflação e de diminuição da pressão de demanda, mas também terá que olhar os riscos futuros que esse expansionismo fiscal pode causar.

O que complica a situação do Banco Central é de novo a dualidade da política econômica. Enquanto o BC tenta conter a demanda para evitar a alta da inflação, o governo continua aumentando gastos através da atuação do BNDES ou de gambiarra para contornar limites ao endividamento público.

Foi o que acabou de acontecer esta semana com a decisão de permitir que alguns municípios se endividem acima do limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Nada disso, como dolorosamente aprendemos, é inofensivo. Tudo cobra a sua conta mais cedo ou mais tarde. Na obsessão de fazer o sucessor, o governo Lula está criando — ou recriando — monstrengos na área fiscal.

A mais assustadora herança para o próximo governo será essa forma de atuação do BNDES, que traz de volta velhos vícios que nos causaram tantos problemas no passado.