sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Amnésia: o menor dos males

Dizem que eleitor brasileiro não tem memória... Que no ano seguinte já não lembra das mazelas de dado candidato e, o reelege.


Sem querer teorizar sobre possíveis variáveis explicativas da manutenção de velhas raposas no poder, arrisco dizer: seria muito bom se "apenas" uma amnésia do eleitor fosse o grande mal do Brasil.

Um exemplo emblemático deve ser visitado para rejeitar a hipótese da amnésia. Mas façamos tal visita de forma temporal diferente. Ao invés de tentar avaliar algum evento do passado que ninguém "lembra" mais, citemos um exemplo do presente que, no futuro próximo, ninguém "lembrará" mais: a questão do voto secreto dos parlamentares.

Pois bem, o evento do presente pode ser resumido da seguinte forma:

A Câmara dos Deputados aprovou proposta que prevê o fim do voto secreto dos parlamentares. Já o Senado Federal aprovou outra proposta, uma que prevê o fim do voto secreto, porém, somente em casos de cassação de mandatos. O que foi aprovado na câmara precisa ainda ser votado no senado. Já o que foi aprovado no senado precisa ser votado na câmara. Mas o discurso já está preparado: “Estamos atendendo as reivindicações das ruas".

-Será?

A PEC "da câmara" estava engavetada há 7 longos anos, e apenas agora alguém resolveu remover-lhe as teias de aranha... O atraso, por si só, já elimina a falácia de uma suposta sintonia entre o legislativo e o desejo popular. A PEC "do senado" levou menos tempo para ser aprovada pela casa, e bastaria agora ser votada na câmara. Seria um caminho mais curto, no entanto, não seria ainda um instrumento capaz de nos fornecer a tão almejada transparência.

Já o evento futuro pode ser resumido no contexto das eleições 2014.

Os jargões explorados pelos marqueteiros não serão mais os usuais: "mais saúde", "mais educação", blá blá blá... Serão, com todas as pompas, "manifestações de julho", "clamor popular", blá blá blá (2). Independente do que vier a ser, no final, posto para a sanção presidencial sobre abertura de voto dos parlamentares, a questão já traz, pela essência, um aspecto de “ganha-ganha” para os políticos e suas campanhas. Em outras palavras, independente da efetividade ou tempestividade das propostas, obviamente, TODOS os parlamentares exaltarão seus supostos papéis para mudar o país.

Neste ínterim, quando começar a ladainha eleitoral, não conseguiremos aferir legitimidade aos discursos nem identificar a falácia eleitoreira, e o problema, sem dúvida, não será a falta de memória. No ano que vem, provavelmente, assimilaremos aquilo que a mídia nos disser, e lembraremos do presente sem perceber que o estamos lendo superficialmente.

Não é, portanto, uma simples amnésia! É que ignoramos os buracos da informação, os quais serão preenchidos, oportunamente, no futuro.

Resolver isso é complexo? Sim, demais! Por isso mesmo “se” a falta de memória, se, tão somente ela, fosse o motivo das decisões eleitorais ... Ah, que bom seria!

Kemel Kalif