sexta-feira, 12 de julho de 2013

A pulga e o barulho

Pois bem, como é do conhecimento geral, no dia 09/07/2013, foi votada a PEC 37/2011 - aquela que previa redução, de 2 para 1, do número de suplentes de Senador, e ainda restringia parentes como suplentes. Talvez sem imaginar a repercussão da não aprovação desta PEC, o placar de votação registrou 17 votos "não", ou seja, contra a aprovação; uma abstenção; 16 faltas...

A proposta não foi aprovada, pois os 46 votos a favor da PEC não completaram o mínimo necessário para aprovar uma proposta no senado (que seria de 49).

No dia seguinte, atônitos pelo impacto negativo da não aprovação, e pelos dedos virtuais apontados, os senadores desenterraram uma "Emenda 2 (Substitutivo) a PEC 11/2003", pondo em votação novamente a questão da redução de suplentes de senador, e restrição a nominação de parentes para tal suplência. E vejam, houve apenas um voto contrário, uma abstenção!

Quem faltou na votação do dia 09/07 nem se preocupou em correr para parecer "bem na foto", pois os 16 faltosos foram quase os mesmos nos dois dias. Os que haviam votado "não" anteriormente, estes sim é que correram para mudar seus votos na sessão do dia 10/07, e assim, quem sabe, evitar ter o nome estampado nos cartazes carregados pelo povo nas ruas.

Então senti uma coceira na orelha - era mosquito ?

Porque diabos não era uma votação com presença absoluta dos senadores, já que a mídia estava com lentes e microfones voltados ao Senado? Porque os faltosos pareciam não estar nem aí, enquanto que os que haviam votado "não", praticamente se acotovelavam para, rapidamente, registrar seu voto de "sim, sou a favor" ?

Foi então que percebi que aquela coceira não era de mosquito, era de pulga. E de lá de trás da orelha, a pulga me pinicava, e tentava até falar alguma coisa.

Bom, já que nunca fui bom em entender a voz da pulga, resolvi consultar quem entende...- não de pulga, mas de política - Me explicaram e, por fim, compreendi...- Não a política, mas a pulga.

A pulga fazia barulho, mas talvez fosse, dessa vez, uma caso de pulga escandalosa.

O fato é que ser suplente de senador não é ser vice de senador, suplente de senador não é remunerado e, neste ponto, pouco importa se tem 1, 2 ou mais suplentes! O que realmente importaria seria, neste pandemônio eleitoral, que o suplente fosse escolhido pelo voto (usar os mais votados para o senado seria uma boa opção). Na prática, quando votamos em um senador, estamos votando em mais 2 possíveis senadores, uma vez que o titular escolhe seus 2 suplentes. O suplente serve para assumir o cargo em caso de saída do senador para ocupar outro cargo, pedido de licença, renúncia, morte, etc. Significa dizer que, não raramente, alguém que não foi eleito pelo famoso voto direto da belíssima democracia brasileira, assume um mandato inteiro de senador.

Outro ponto, a restrição a nominação de parentes para a suplência, sim, é importante, mas seria completamente desnecessário se a escolha do suplente obedecesse o ranking dos votos apurados numa eleição. Mas, ao menos por enquanto, essa restrição é importante para evitar essa grande "capitania hereditária" que é atualmente o senado brasileiro (Veja: http://wwo.uai.com.br/UAI/html/sessao_3/2008/09/15/em_noticia_interna,id_sessao=3&id_noticia=79586/em_noticia_interna.shtml ).

A pulga poderia se proliferar rapidamente, chegar até as ruas... Por isso correram os políticos aos seus postos, trabalharam dobrado... Grande receio de impactos negativos em ano pré-eleitoral... A população  comemorou: passou a "PEC dos suplentes e parentes de senadores". Mas no final das contas, é apenas a voz da pulga que, invariavelmente, é renitente atrás das orelhas que não aguentam a soberba dos nossos políticos.No final, foi apenas um típico caso de pulga atrás da orelha, a mesma que faz muito barulho por nada.

Kemel Kalif