quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma "evacuada" sustentável


Sabe, não há problema algum em usar sustentabilidade como marketing. Ao contrário, empresas que adotam medidas efetivas rumo a sustentabilidade podem, e devem, ser recompensadas. Mas o problema é que, percebendo as vantagens competitivas que o título de "sustentável" pode conferir, empresas vêm banalizando a comunicação sobre sustentabilidade, através de informações duvidosas nas embalagens de seus produtos.
            Lhes dou um exemplo, um amigo me procurou para me mostrar um recorte que fizera de uma embalagem de papel higiênico. 
- Somos sustentáveis até para "evacuar"... - brincou, logicamente, usando outro verbo de ação. E me perguntou se aquele carimbo não tinha a ver "com aquela história de fontes de celulose certificadas, sem problemas ambientais e sem mazelas trabalhistas".
Não, não tinha a ver... Era apenas uma impressão criada pela própria empresa, e que imitava um carimbo com os dizeres "compromisso com a sustentabilidade". Mas antes de dar o veredito de propaganda enganosa, e para descartar a possibilidade de que meu amigo houvesse recortado o local errado da embalagem, acessei a página do fabricante.
Após muito revirar, enfim apareceu um pequeno parágrafo. A justificativa do fabricante para estampar aqueles dizeres, dada em redundantes quatro frases, era a compra de um maquinário que permitia embalar um fardo de papel higiênico com 5% menos plástico. - Eis a banalização da palavra sustentabilidade.
O problema não estaria nem no percentual insignificante da redução, mas sim na forma com que a empresa, forçosamente, tenta passar a ideia de um compromisso que, sabemos, envolveria ações dentro das 3 grandes áreas da sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico. O problema é induzir um consumidor sensível a questões socioambientais a crer que aquele é um produto diferenciado, utilizando, para tanto, uma autodeclaração de peso que, na prática, trata-se de um aspecto trivial.
Para reduzir a possibilidade de engôdo, o consumidor pode adotar algumas premissas para julgar se um rótulo de sustentabilidade é, ou não, sério. O primeiro ponto é procurar saber quem conferiu a qualidade de sustentável a dado produto. O "quem", neste caso, espera-se que seja um organismo independente, não ligado a grupos econômicos ou governos, muito menos a própria empresa que recebe o status. O segundo passo é procurar saber em quais princípios está alicerçado o rótulo e se houve, na aferição de tal qualidade, um sistema de verificação realizado por terceira parte. Por fim, é de se esperar que o processo esteja documentado, disponibilizado, e de fácil acesso aos consumidores.
Isto posto, o veredito foi dado: - Até para "evacuar" podemos ser enganados.