quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma "evacuada" sustentável


Sabe, não há problema algum em usar sustentabilidade como marketing. Ao contrário, empresas que adotam medidas efetivas rumo a sustentabilidade podem, e devem, ser recompensadas. Mas o problema é que, percebendo as vantagens competitivas que o título de "sustentável" pode conferir, empresas vêm banalizando a comunicação sobre sustentabilidade, através de informações duvidosas nas embalagens de seus produtos.
            Lhes dou um exemplo, um amigo me procurou para me mostrar um recorte que fizera de uma embalagem de papel higiênico. 
- Somos sustentáveis até para "evacuar"... - brincou, logicamente, usando outro verbo de ação. E me perguntou se aquele carimbo não tinha a ver "com aquela história de fontes de celulose certificadas, sem problemas ambientais e sem mazelas trabalhistas".
Não, não tinha a ver... Era apenas uma impressão criada pela própria empresa, e que imitava um carimbo com os dizeres "compromisso com a sustentabilidade". Mas antes de dar o veredito de propaganda enganosa, e para descartar a possibilidade de que meu amigo houvesse recortado o local errado da embalagem, acessei a página do fabricante.
Após muito revirar, enfim apareceu um pequeno parágrafo. A justificativa do fabricante para estampar aqueles dizeres, dada em redundantes quatro frases, era a compra de um maquinário que permitia embalar um fardo de papel higiênico com 5% menos plástico. - Eis a banalização da palavra sustentabilidade.
O problema não estaria nem no percentual insignificante da redução, mas sim na forma com que a empresa, forçosamente, tenta passar a ideia de um compromisso que, sabemos, envolveria ações dentro das 3 grandes áreas da sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico. O problema é induzir um consumidor sensível a questões socioambientais a crer que aquele é um produto diferenciado, utilizando, para tanto, uma autodeclaração de peso que, na prática, trata-se de um aspecto trivial.
Para reduzir a possibilidade de engôdo, o consumidor pode adotar algumas premissas para julgar se um rótulo de sustentabilidade é, ou não, sério. O primeiro ponto é procurar saber quem conferiu a qualidade de sustentável a dado produto. O "quem", neste caso, espera-se que seja um organismo independente, não ligado a grupos econômicos ou governos, muito menos a própria empresa que recebe o status. O segundo passo é procurar saber em quais princípios está alicerçado o rótulo e se houve, na aferição de tal qualidade, um sistema de verificação realizado por terceira parte. Por fim, é de se esperar que o processo esteja documentado, disponibilizado, e de fácil acesso aos consumidores.
Isto posto, o veredito foi dado: - Até para "evacuar" podemos ser enganados.

domingo, 20 de novembro de 2011

O sujeito indeterminado


Com a proximidade do período das chuvas, chega também a época do “sujeito indeterminado”. Exemplos estarão, mais uma vez, no veredito da mídia e do povo acerca da responsabilidade pelas enchentes, inundações e alagamentos:

Jogaram lixo...”, “Entupiram o esgoto...

Juntamente com a aceitação a tal veredito, aceita-se também que o sistema de esgotos da cidade é suficiente para drenar as águas, e que ele só entope porque a população é mal educada. - Não creio serem inteiramente verdadeiras estas afirmações.

É bem verdade que qualquer tipo de via de escoamento da água, quando obstruída, não cumprirá sua função. É bem verdade também que existe muito lixo espalhado por aí, podendo ser carreado e obstruir o sistema de esgotos...Mas será verdade que esta é uma das principais causas dos alagamentos, todos os anos, em São Paulo ? Indo além, se realmente o lixo é o responsável, qual seria a parcela deste que é proveniente de despejo inapropriado, e qual a parcela que vem da inoperância no sistema de coleta ?

Apesar de não existirem respostas conclusivas para estas perguntas, a mídia e, especialmente, a prefeitura, já têm pronta a sentença: "Jogam lixo que entope os esgotos". Mas para que tal afirmação seja legítima, e não uma forma inteligente de se esquivar do problema, seria preciso, primeiramente, conhecer o volume total de líquidos e as dimensões da rede de esgoto, para então determinar se o sistema é suficiente para garantir a vazão. Isso seria comparado, então, a dados do quanto que o lixo limita aquela vazão.

Já a outra questão, se o sistema de coleta é eficiente, a prefeitura pode até estimar que, ao cobrir "X%" da cidade com a coleta de lixo, daria conta de "Y%" do volume total de lixo gerado nos bairros. Por razões óbvias - como toda informação que reflete o desempenho de uma gestão municipal - tal estimativa tenderia a ser aproximar dos 100% da área da cidade. Restaria, então, o verdadeiro culpado, o sujeito indeterminado: jogam lixo.

O uso deste sujeito como causador de todos os males, na verdade, é muito vantajoso para a prefeitura. O sujeito indeterminado é responsável pelas praças mal cuidadas, pelos poucos e péssimos banheiros públicos, pelas filas caóticas nos trens e metrôs, pelas calçadas destruídas, pelos engarrafamentos... Afinal, dentro do sujeito indeterminado estão os mal educados, e já que existe uma generalizada falta de cidadania, não é difícil convencer a sociedade de que o lixo dos mal educados é o causador dos esgotos entupidos, conseqüentemente, dos alagamentos.

Jogaram lixo...", "Entupiram o esgoto...”- Fecha-se o ciclo: não se acusa ninguém, livra-se do ônus da prova e, de quebra, da responsabilidade. O sujeito indeterminado é, sem dúvida alguma, o melhor bode expiatório que existe.

domingo, 13 de novembro de 2011

O dinossauro e os nossos filhos

Dia desses via um canal infantil e um programa mostrava algumas crianças numa máquina do tempo. Elas queriam saber como vivia o homem pré-histórico e, para tanto, viajaram ao passado transformando-se em homens da caverna, cabeludos, balbuciando “munga, munga...”.  De repente, um amedrontador tiranossauro, faminto, os perseguiu até conseguirem retornar ao presente – Ufa!

O mundo da fantasia é uma delícia. Tive saudade do tempo em que voltava do colégio e assistia “O Elo Perdido”. Lembrei-me até do quanto que ficava impressionado com aquelas animações rudimentares de dinossauro, e aquelas montagens toscas, além do enredo fantástico e absurdo.

Imerso nesses pensamentos, me deparei com uma questão que logo me arrebatou de volta a realidade: Qual o nível do conhecimento sobre os primórdios do homem, que as crianças atuais têm ? Deve ser bem melhor que o da minha época quando era preciso se deslocar até uma biblioteca para obter respostas.

Formulei, então, uma pergunta que deveria ser feita a crianças de 6 a 12 anos. Perguntaria se elas saberiam responder porque um dinossauro nunca conseguiu comer um ser humano.

Além de tentar enveredar pelo imaginário infantil, a pergunta teria também a motivação de verificar a situação do ensino básico neste mundão de meu Deus... Fiz algumas poucas perguntas, uma aqui outra ali...

O que era para ser uma brincadeira, na verdade foi uma surpresa: os pais, ao tentarem responder no lugar dos filhos, também desconheciam a resposta. Surpreenderam-me explicações do tipo “a carne dos humanos não agradava os dinossauros”.

Apesar da não representatividade estatística da enquete, passei a ficar convencido de que muitos adultos estariam enganados a respeito disso.

A pergunta, na verdade, não passa de uma pegadinha. A resposta é: um dinossauro nunca conseguiu se alimentar de um ser humano, simplesmente, porque dinossauros foram extintos milhões de anos antes do surgimento dos humanos! Na verdade, o próprio florescimento dos mamíferos, incluindo os primatas ancestrais, deu-se após o desaparecimento dos "dinos". 

De onde viria então esta informação de que dinossauros teriam vivido juntamente com os humanos primitivos ? A resposta é óbvia: a indústria voltada ao público infantil insiste naquela representação do homem das cavernas, ou fugindo de dinossauros, ou até os mantendo como animalzinho de estimação.

Na medida em que existe um padrão nesta situação, creio, não terá sido mero apelo comercial... Talvez os produtores, roteirista e ilustradores, não saibam responder a mesma simples pergunta da enquete. Afinal, vai saber se, assim como nós, pais, que assistíamos Fred Flinstone e líamos a tiras do Brucutu, ou da Turma do Piteco, também os produtores e roteiristas dos programas atuais não ficaram com aquela informação de que estas duas espécies teriam habitado o mesmo espaço-tempo na história geológica do planeta!?

A coisa não para por aí... Outros mitos, neste caso envolvendo animais da nossa atualidade, também são fixados no imaginário infantil, e parecem se perpetuar na idade adulta. Trata-se de outro padrão observado nos desenhos animados, quadrinhos e programas infantis: o bombardeio de imagens de algumas poucas espécies animais, via de regra, africanas, subliminarmente informando a sua onipresença no globo.

Novamente, nossos pequenos curiosos acabam ficando com a informação de que os animais que habitariam, por exemplo, uma floresta amazônica, seriam leões, chimpanzés, hipopótamos, elefantes e girafas. 

Existe até um desenho animado de produção e arte inteiramente nacionais, ambientado numa floresta, onde um dos personagens principais é um chimpanzé. Embora o desenho não mencione em que região do globo estaria aquela floresta, ele mistura, sem qualquer tipo de explicação, ursos e cangurus, hienas e jaguatiricas, girafas e antas. Alguma dúvida de que animais também andam de avião ?

Bom, de maneira alguma defendo uma frieza tecnicista a limitar o mundo da fantasia. Como falei, era maravilhoso aquele absurdo fantástico de “O Elo Perdido”. Mas há que se identificar quando a massificação da fantasia passa a criar mitos e quando prejudica um efetivo entendimento do mundo em que vivemos.  

Kemel Kalif

domingo, 6 de novembro de 2011

Boa intenção ou desserviço ?

Destaco fotos que foram publicadas pelo UOL notícias. As fotos são da ciclofaixa de Moema, com inúmeros flagrantes de completo desrespeito, inclusive com registro do protesto da dona do Pajero, parado em cima da ciclofaixa e com placa encoberta por um plástico. (http://noticias.uol.com.br/album/111105moema_album.jhtm?abrefoto=6#fotoNav=12 ). Destaco também a reportagem do Jornal Nacional, onde comerciantes se indignam com uma simples ciclofaixa, e onde a mesma dona do Pajero dá o seu recado (http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/t/edicoes/v/pesquisa-analisa-a-mobilidade-em-nove-capitais-do-brasil/1686633/ ).

Pois é, estas reportagens revelam alguns pesos a serem levados em conta na questão da mobilidade em São Paulo e, especialmente, no que se refere a dicotomia "lazer versus funcionalidade" no uso de bicicletas. Via de regra, ciclofaixas, ciclorotas ou ciclovias, cada uma com sua especificidade, quando não ligam uma área residencial a uma área comercial, quando não atendem as necessidades de deslocamento que não as localizadas em uma área específica, tendem a ter a conotação de mero lazer. Neste ínterim, o estabelecimento de vias aos ciclistas acaba por prestar um desserviço para o próprio ciclista. 

Digo isso porque os condutores de carros e motos, julgando-se os únicos imbuídos de vencer a corrida e o estresse do dia-a-dia, os únicos cuja necessidade de não se atrasar seria legítima, não poderiam ter outra visão sobre a bicicleta: "vá se divertir em outro lugar!" - Eis o desserviço !

Se o ciclista já está errado trafegando na parte que lhe é reservada, imagina quem é obrigado, por falta de opção, a trafegar em meio aos carros !?

Como sendo um ciclista que aboliu completamente o uso do automóvel em deslocamentos casa-trabalho-casa, todos os dias sofro com a idiotice de pessoas que vêem a bicicleta como algo que está, constantemente, no lugar errado. Logicamente, tendo a me revoltar com pessoas como a comerciante das imagens. Porém, antes de atirar esta pedra, acho que devemos considerar um outro ator nesta questão, alguém que nem ao menos vem sendo mencionado nas discussões sobre a ciclofaixa de Moema: a Prefeitura de São Paulo. 

A prefeitura quer, assim como qualquer governo, seja municipal, estadual ou federal, seja do partido "A" ou "B", tão somente, atingir bons números em qualquer área que lhe renda alguma vantagem para vender o peixe. Não importa que estes números não sejam, de fato, efetivos. - É como dizer que ampliou as creches e escolas municipais em "X" vagas, quando, na verdade, mais da metade destas vagas não são funcionais por não terem sido contratados os educadores. 

No trânsito, é a mesma coisa, e no caso das bicicletas os números podem ser usados ainda para promover diversas secretarias: trânsito, lazer e esportes, urbanismo e planejamento, meio ambiente, etc. Portanto, o que importa é dizer, ao final: "no meu governo, construímos X quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas".

Nós, ciclistas, costumamos comemorar cada metro de ciclovia inaugurado em São Paulo, e o fazemos com o otimismo na crença de que seria o começo de um processo lento. Sem dúvida o processo é lento, mas não há mais tempo para processos lentos no caos. Pior ainda é quando, sem planejamento, fiscalização, infraestrutura, se estabelece algo como no caso de Moema: um improviso que tem mais chance de prejudicar alguma mudança na cultura do carro.

Nesta ciclofaixa, assim como a tal da "Ciclorota do Brooklin" (mencionada no post: http://kemelkalif.blogspot.com/2011/07/sou-um-carro-menos-ate-quando.html), o destino, não metafórico, é o esquecimento.


Kemel Amin B. Kalif: Agrônomo que não sabe plantar batata, mestre em zoologia/ecologia que não é biólogo, doutor em desenvolvimento sustentável onde se tornou esquizofrênico de uma vez por todas, pós-doutor em economia ecológica e rabugento de nascença.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O raro jargão

Já perceberam o quanto que nos deparamos com a palavra “sustentabilidade”, e derivados, no nosso dia-a-dia ?
É um jargão tão reconhecidamente jargão, que até falar que sustentabilidade é um jargão, também é um jargão!
Mas o que não é reconhecido é que, embora o Desenvolvimento Sustentável tenha alcançado o imaginário popular, sua essência permanece incógnita para população e, pior, para os tomadores de decisão. Neste ínterim, há que se considerar diversos agentes causais, destacando-se, obviamente, a grande mídia e, não menos importante, a omissão da academia em traduzir para a sociedade seus complexos artigos científicos. O resultado, vemos todos os dias, uma sustentabilidade banalizada, sinônimo de reciclagem de lixo e, quando muito, de uso um pouco mais racional da água.
Mas falar que sustentabilidade vai além, também é um jargão... Afinal, todos sabem que “ela” é mais que isso...
Existe até aquela clássica representação na forma de um triângulo, onde cada uma das forças – ambiental, social e econômica – está disposta num dos vértices. O desenvolvimento da humanidade deveria, segundo tal representação, ocorrer sem desequilíbrio das forças, mantendo o triângulo, eternamente, eqüilátero.
No mundo dos negócios a sustentabilidade assume a forma de qualidade de produtos, serviços ou processos produtivos, e, como tal, passa a ser adjetivo de auto-condecoração: somos os melhores, somos os maiores, somos sustentáveis.
O que se perdeu neste processo, ou nem ao menos foi um dia compreendido de fato, foi que a condição de sustentável é um horizonte a ser, constantemente, perseguido, e não um status que se atinja adotando essa ou aquela medida dentro do simplista triângulo.
Uma analogia muito bem sucedida acerca do que seria o Desenvolvimento Sustentável, nos é fornecida pela termodinâmica. Tenhamos em mente o exemplo da “máquina de movimento perpétuo”, ou do latim perpetuum mobile, que seria descrito como um motor que nunca para de funcionar, sendo necessária apenas uma quantia inicial de energia que seria reaproveitada, infinitamente, no sistema. Seria, por exemplo, o motor de um carro que funcionaria, eternamente, com uma única quantidade de combustível – De cara, percebesse: impossível de existir tal motor – Mas porque ?
O que motores a combustão fazem é transformar a energia térmica (da explosão do combustível) em energia mecânica (movendo engrenagens), para executar uma tarefa. Na concepção da máquina de movimento perpétuo, a energia inicial aplicada seria reaproveitada no final, convertida novamente em energia térmica, novamente em mecânica e, novamente utilizada. O motor nunca deixaria de funcionar por não haver perda de energia.
A construção de tal máquina é impossível devido uma lei tão certa quanto a da gravidade: a entropia termodinâmica. No caso do motor, a grosso modo, significaria dizer que parte da energia aplicada no seu funcionamento, sempre, invariavelmente, será perdida, e não poderá ser reaproveitada no sistema. O mero atrito entre engrenagens do motor representa uma perda da energia mecânica que acaba por gerar calor que, por sua vez, se perde para a atmosfera. E mesmo que fosse possível construir um sistema que canalizasse o calor gerado pelo atrito de todas as peças, para tentar reaproveitá-lo no sistema, ainda assim, haveria perda de energia.
A perda de energia é a entropia do sistema, e ocorre pois não existem sistemas fechados. Mesmo uma garrafa térmica com um líquido quente, perde calor para atmosfera; mesmo o planeta Terra, o Sol, o Sistema Solar e, em última instância, o Universo, perdem energia... Em termos de energia pode-se dizer, e sem causar pânico ou alarde: caminhamos para o "fim".
Mas voltando a nossa analogia, por isso o motor precisa de constante entrada de energia para manter-se funcionando – Simples assim!
Contudo, apesar de tal impossibilidade, o motor perpétuo serve de horizonte norteador na construção de motores reais. Tal horizonte inspira a tecnologia na busca de maneiras de reduzir a perda de energia, fazendo com que, atualmente, os motores executem o mesmo trabalho que motores de outrora, porém com entrada de energia bem menor.
A invevitabilidade da perda de energia pode ser comparada, diretamente, a impossibilidade de se produzir e consumir alimentos, sem ocasionar perdas insubstituíveis a natureza. Também é da mesma forma que o Desenvolvimento Sustentável é um horizonte norteador: atualmente se produz mais alimento em menor espaço, com possibilidades reais de reduzir efeitos deletérios ao meio ambiente e ao homem.
Desta forma, algo pode ser mais ou menos sustentável, estar mais ou menos distante daquele “horizonte perpétuo”, mas não pode ser, na essência, sustentável, pois aquele horizonte é, em princípio, impossível de existir.
Em suma, o que o Desenvolvimento Sustentável propõe é que as atuais gerações de humanos não comprometam a existência das gerações futuras que, por sua vez, não devem comprometer as gerações vindouras, e assim por diante. Não comprometer gerações futuras, ad infinitum, é como construir uma máquina de movimento perpétuo, portanto, impossível. No entanto, deixar o máximo de recursos para as gerações futuras que, por sua vez, deixem o máximo que puderem para as gerações seguintes...sim, essa é a verdadeira perpetuação da espécie humana. O que temos nas mãos é a possibilidade de, tão somente, atrasar o fim.
– E porque, então, atrasar o “fim”, se ele é inevitável?
Para responder, vamos lembrar das ideias de Thomas Robert Malthus, que dizia que logo chegaria o ponto onde não se produziria alimentos para suportar a população do planeta. Ele estaria certo numa situação onde não houvessem inovações tecnológicas. Em outras palavras, Malthus lançou suas ideias baseado na realidade e nos preceitos de sua época – uma Inglaterra feudal onde o aumento da produção de alimentos só ocorreria com o aumento do tamanho da área plantada. Seu erro foi não considerar a possibilidade de que novas descobertas virassem a mesa do jogo, como de fato viraram. Por exemplo, a simples técnica da rotação de culturas veio logo em seguida, e aumentou consideravelmente a produção de alimentos sem aumentar o tamanho da área plantada, o que, aliás, foi uma das causas para o fim do sistema feudalista.
Pois bem, a resposta é essa, devemos ganhar tempo para que o futuro nos responda como perpetuar a espécie humana. Afinal, mesmo este texto simplório está escrito dentro dos paradigmas e do conhecimento atuais, portanto, sujeito ao erro.
O fato é que vivemos na era do capitalismo, onde a busca pela sustentabilidade representa, nada além do que o aumento dos custos operacionais. Embora a maximização de lucros, cortando custos operacionais, seja o lugar comum no mundo atual, e embora nem ao menos haja sinal de que isto acabará no curto o médio prazo, não podemos crer que o capitalismo veio para ficar.
Devemos, sim, ganhar tempo... Não deixemos que a banalização da sustentabilidade nos leve a uma descrença suicida.

sábado, 29 de outubro de 2011

O cinza que queria ser verde

Tenho impressão que a Prefeitura de São Paulo quer lutar contra o estigma da cidade de concreto, e de horizonte acinzentado.

Para cortar ou podar uma árvore em São Paulo é preciso autorização da subprefeitura responsável pela região. Não estou falando de propriedades rurais, estou falando do ambiente urbano mesmo.

Do ponto de vista da qualidade de vida, são inquestionáveis os benefícios da manutenção de árvores no ambiente urbano. Do ponto de vista da segurança, faz sentido, já que o corte requer medidas de segurança que, certamente, não serão adotadas pelo “Seu Fulano”, o jardineiro do vizinho. Agora, do ponto de vista prático... – Iiiih !

Conseguir uma autorização dessas é difícil, mas não porque a importância da árvore é tamanha que a justificativa para seu corte ou poda deva ser boa. Simplesmente porque as subprefeituras não respondem, o que expõe a morosidade e o formalismo burocrático dos órgãos públicos. - É o velho papo: criamos legislações avançadas, mas que não funcionam devido a inoperância estatal.

Isso é tragicômico para quem trabalha, há mais de 20 anos, com questões ambientais, como eu... Sabemos que São Paulo é o principal mercado consumidor das commodities da Amazônia e, conseqüentemente, é a principal força matriz do desmatamento que ocorre por lá.

Por exemplo, o maior consumidor da madeira nativa e da carne bovina produzida na Amazônia é São Paulo. Produzir madeira, não necessariamente significa desmatar, mas a principal causa do desmatamento na Amazônia é a derrubada da floresta para formação de pastagens, para a produção de carne, e grande parte da madeira da Amazônia que SP consome é proveniente de áreas que foram derrubadas ilegalmente para formação de pastagens. - Sacou ?

Mas o que importa é a cidade manter um número x de árvores, e as prefeituras e secretarias de meio ambiente venderem o peixe da lição de casa feita: “No meu governo aumentou em x% a área verde da cidade...”. Assim, o paulistano que, literalmente, come vários hectares de floresta por ano, pode se sentir “ecologicamente correto” ao saber que é preciso de autorização para se livrar daquela maldita árvore que está quebrando sua calçada.

Pois é, não há limites para a hipocrisia...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Desrespeito coletivo (Revista do IDEC n° 159 - Outubro de 2011)



Desrespeito coletivo
http://www.idec.org.br/imagens/revista/159-capa-01.jpgOs sites de compras coletivas não assumem responsabilidade por problemas decorrentes de suas vendas, não oferecem informações suficientes ao consumidor e divulgam descontos maiores do que realmente são. E os problemas não param por aí.

Se alguém apostasse, no fim de 2009, que a febre das compras coletivas no Brasil logo seria substituída por alguma outra novidade virtual, erraria feio. Quase dois anos depois de ter surgido por aqui, essa modalidade de comércio eletrônico continua crescendo em progressão geométrica. De acordo com dados do portal Bolsa de Ofertas, especializado no assunto, há quase 2 mil empresas atuando nesse ramo no país - considerando aquelas que oferecem cupons de descontos para produtos e serviços, e as que agregam ofertas de outros sites.

Diante da consolidação desses sites no mercado brasileiro, o Idec decidiu verificar se os direitos dos consumidores são respeitados. Para isso, avaliou as quatro maiores empresas do setor: Groupon, Peixe Urbano (pioneiro no Brasil), Clickon e Groupalia. Ao analisar os contratos e simular compras, constatamos que os sites cometem várias irregularidades. Por exemplo, nenhum deles assume a responsabilidade em caso de defeitos dos produtos e serviços que ofertam, embora pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) eles respondam solidariamente por qualquer problema no processo da compra virtual. Além de tentar se esquivar da responsabilidade, os sites não fornecem informações suficientes que garantam a idoneidade das empresas fornecedoras, expondo os consumidores a riscos de fraude. O agrônomo Kemel Kalif, de São Paulo, é uma das vítimas de parceria pouco criteriosa realizada pelo Clickon. Há quatro meses, ele recebeu a oferta de um tablet por R$ 249, e diante do preço tentador, comprou o produto. Contudo, até hoje não recebeu o eletrônico. "Passado o prazo inicial de entrega, que era de 20 dias, comecei a contatar o Clickon e a empresa Compre direto da China - fornecedora do tablet -, mas não obtive resposta. Registrei, então, queixa no site Reclame Aqui e descobri que havia inúmeras denúncias contra o fornecedor. Continuei pesquisando e verifiquei que a mesma empresa atua com outros nomes fantasia e que há indícios até de estelionato", conta. O consumidor está se preparando para entrar na Justiça contra as empresas, porque não se conforma com a negligência do Clickon. "Ele não verifica a idoneidade dos fornecedores. Qualquer site que se preze recusaria a parceria com uma empresa como a Compre direto da China, com o histórico que ela tem, reclama.

Embora o caso de Kalif seja um exemplo extremo, não faltam reclamações de internautas que, na ânsia de aproveitar a "superoferta", acabaram tendo grande dor de cabeça. As queixas são tantas que o Congresso está discutindo um projeto de lei para regulamentar a questão (PL no 1.232/2011).

As práticas irregulares observadas no levantamento são similares entre as empresas avaliadas, o que indica que são generalizadas em todo o setor. Por isso, é importante que os consumidores fiquem atentos ao visitar a página de qualquer site de compras coletivas. Veja, a seguir, os principais problemas identificados.
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Como foi feita a pesquisa
Com o objetivo de verificar se os sites de compras coletivas respeitam os direitos do consumidor, a pesquisa avaliou a prestação do serviço das quatro maiores empresas desse segmento no país, segundo o ranking do portal Bolsa de Ofertas: Groupon, Peixe Urbano, Clickon e Groupalia.

O levantamento, realizado de 1º a 16 de setembro, foi dividido em duas etapas: análise contratual e simulação de compras. Na primeira, foram observadas as cláusulas do contrato disponível nos sites, e os Termos de Uso e/ou a Política de Privacidade das empresas. Na segunda, foram realizadas simulações de compra de um produto e de um serviço em cada um dos quatro sites, a fim de observar as informações veiculadas nas ofertas e na publicidade.
CADASTRO OBRIGATÓRIO DE E-MAIL, SEM ACESSO AO CONTRATO
Groupon e Peixe Urbano

É direito do consumidor só cadastrar seu e-mail depois de analisar os Termos e Condições de Uso (que têm a mesma função e validade de um contrato) e a Política de Privacidade dos sites de compras coletivas. Porém, para navegar no
Groupon e no Peixe Urbano e, assim, conhecer as regras de funcionamento, o internauta precisa cadastrar seu endereço eletrônico. Além disso, as duas empresas praticam o sistema opt-out para o cadastro, em que o consumidor compulsoriamente aceita as regras de prestação do serviço, uma vez que esse item já vem assinalado. Caso discorde, deve procurar como se desligar daquelas regras, ou seja, optar por sair. "Essa prática desrespeita a autonomia do consumidor e sua liberdade de escolha", afirma Guilherme Varella, advogado do Idec responsável pela pesquisa.
UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE DADOS PESSOAIS Groupon, Peixe Urbano e Clickon

As três empresas compartilham os dados pessoais dos seus usuários cadastrados com terceiros para uso comercial e publicitário, sem identificar quem são eles. "Não há garantias sobre a forma de tratamento das informações, o que é uma ameaça à privacidade dos consumidores e dá margem à publicidade virtual massiva e abusiva (os chamados spams)", destaca Varella.
ISENÇÃO DA RESPONSABILIDADE Groupon, Peixe Urbano, Clickon e Groupalia

Todos os sites pesquisados apresentam cláusulas contratuais que eximem sua responsabilidade em relação à qualidade e à eficiência dos produtos e serviços que oferecem. Os sites atribuem a obrigação de reparar eventuais prejuízos apenas aos seus "parceiros" - fornecedores dos artigos divulgados -, colocando-se como meros "intermediários" do negócio. Mas a verdade é que pelo artigo 18 do CDC eles respondem, sim, por qualquer problema ocorrido no processo de compra virtual. "O site de compras coletivas faz parte da cadeia de fornecimento de produtos e serviços, pois atua na etapa de oferta, publicidade e transação financeira dos compradores. Não há o que justifique a isenção ou diminuição de sua responsabilidade", destaca o advogado do Idec. Dessa forma, as cláusulas contratuais que isentam sua obrigação são nulas, de acordo com o artigo 51, I e III, do CDC, e o consumidor pode, sim, exigir que os sites de compras coletivas resolvam os problemas constatados nos produtos ou serviços que comercializam.


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Saúde no atacado
No fim de agosto, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) proibiu que os sites de compras coletivas ofereçam cupons promocionais para tratamentos desenvolvidos por profissionais dessas áreas, como drenagem linfática, radiofrequência e aplicação de Manthus. De acordo com o órgão, a comercialização desses serviços sem a avaliação prévia de um especialista pode pôr em risco a saúde dos pacientes. Contudo, a pesquisa do Idec observou que os tratamentos continuam sendo oferecidos indiscriminadamente - inclusive, os serviços cuja compra foi simulada no Groupon e no Peixe Urbano se enquadram na categoria proibida. Diante do alerta do Coffito, o Idec recomenda que os consumidores não adquiram tratamentos estéticos ou de saúde por meio de sites de compras coletivas e que denunciem ao órgão as clínicas que descumprem a medida.
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DESCONTO MAQUIADO Groupon, Groupalia, Peixe Urbano e Clickon

Constatamos inflacionamento do preço original de produtos e serviços em todas as empresas. No Groupon, o valor promocional informado para o produto pesquisado, um vaporizador, era R$ 239, e o desconto, 50%. De acordo com esses dados, o valor integral do produto seria R$ 479. Porém, ao ligar para o televendas do fornecedor, o atendente informou que o preço do produto era R$ 359. Assim, o desconto oferecido pelo site de compras coletivas é, na verdade, de 33%, e não de 50%. O Idec também simulou a compra de sessões de depilação a laser do Instituto do Laser. O valor integral informado era R$ 1.250, e o promocional, R$ 59,90 (desconto de 95%). No entanto, a equipe da Revista do Idec foi até o Instituto do Laser e verificou que as mesmas cinco sessões de depilação a laser saem por R$ 159, ou seja, o desconto para quem comprasse o pacote de depilação pelo Groupon era de 62%, e não de 95%.

Já ao contatar o fornecedor do serviço oferecido pela Groupalia - um buffet de restaurante mexicano -, a informação obtida é de que ele custa R$ 19,90, e não R$ 49,90, conforme foi anunciado pelo site de compras coletivas. Assim, o desconto de 60% oferecido pelo site é falso, já que o valor indicado como promocional é, na verdade, o preço real do serviço.

No Peixe Urbano, o problema é ainda mais grave. O site ofereceu cupons para cinco sessões de ultralipocavitação (lipoescultura sem cirurgia), mais dez sessões de plataforma vibratória, por R$ 129, e informou que o valor integral do pacote era R$ 2.050 (desconto de 94%). Mas ao visitar a clínica Skin Live (que na verdade é o Instituto do Laser - aquele da promoção do Groupon), descobrimos que o mesmo tratamento oferecido pelo Peixe Urbano sai por R$ 99. Ou seja, o valor integral real é menor do que o promocional divulgado pelo site, o que configura oferta falsa.

No Clickon, o problema é menos evidente, mas igualmente sério. A empresa informa que o valor integral de um aparelho de DVD automotivo é R$ 999. Com o desconto de 50% oferecido, fica por R$ 499. Porém, ao visitar o site da empresa fornecedora, constatamos que o preço de mercado do produto é R$ 599, e o desconto, assim, fica bem menor: apenas 17% (e não 50%, como o anunciado).

Com isso, as empresas incorrem em uma série de infrações, como veiculação de informação inadequada e confusa, e oferta incorreta, o que fere o artigo 31 do CDC. "Como os sites de compras coletivas são uma forma de publicidade, a veiculação de informação falsa pode ser considerada publicidade enganosa, proibida pelo artigo 37 do CDC", explica o advogado do Idec.
NÚMERO MÍNIMO DE COMPRADORES Groupon, Peixe Urbano, Clickon e Groupalia

Nenhuma empresa divulga o número mínimo de compradores necessário para a efetivação da oferta, embora essa seja uma informação fundamental no "mundo" das compras coletivas, pois dela dependerá a efetiva aquisição do produto ou serviço.
DIREITO DE ARREPENDIMENTO Groupon, Peixe Urbano e Clickon
Os três sites não informam adequadamente o direito de arrependimento, nem nas regras gerais para todas as ofertas nem nos Termos de Condições e Uso. De acordo com o artigo 49 do CDC, o consumidor que compra um produto ou contrata um serviço à distância (por telefone ou pela internet) tem direito de desistir do negócio em até sete dias, e de receber seu dinheiro de volta sem qualquer custo. O Peixe Urbano e o Groupon não informam esse direito; já o Clickon diz, nos Termos de Uso, que o consumidor pode cancelar a compra em até sete dias, mas prevê que isso acarretará multa de 40% do valor do cupom. "A cobrança de multa é absurda e ilegal, pois é direito do consumidor desistir da compra", ressalta Varella.
AUSÊNCIA DE SAC Groupon, Peixe Urbano, Clickon e Groupalia

Nenhum dos sites informa de maneira visível canal de atendimento rápido e eficiente ao consumidor, com interatividade direta, como telefone e chat. As opções dadas resumem-se às perguntas frequentes, com respostas pré-formatadas.
FALTA DE INFORMAÇÕES QUE IDENTIFIQUEM OS SITES E FORNECEDORES Groupon, Peixe Urbano, Clickon e Groupalia

Os sites de comércio eletrônico devem divulgar de maneira clara, precisa e suficiente, em sua página, informações essenciais a respeito de si próprios e sobre os fornecedores, como nome de registro, CNPJ, endereço físico e telefone para contato. "Esses dados são fundamentais para que o consumidor possa contatar as empresas e entrar com ação contra elas, caso seja necessário", observa Varella. Em relação aos dados dos sites, em nenhum dos quatro pesquisados essas informações estão visíveis na homepage. No Groupon, os dados identificadores estão disponíveis nos Termos de Uso, enquanto o endereço está em Política de Privacidade; já Clickon e Groupalia informam o nome de registro, CNPJ e endereço físico da empresa apenas nos Termos de Uso; e o Peixe Urbano só disponibiliza o nome de registro e o CNPJ, sem endereço. Nenhum site traz número de telefone para contato. Quando se trata das informações sobre os fornecedores, todos os sites falharam.

Empresas respondem

Groupon: admitiu que tem "parte da responsabilidade" sobre os produtos e serviços que oferta e disse que alterou a cláusula que trata do assunto. Sobre a relação entre preço e desconto, explicou que analisa todas as ofertas antes de publicá-las, mas que pela "natureza dinâmica do modelo de negócio" alguns parceiros podem praticar o preço ofertado no site para outros clientes. O site também afirmou que informa sobre o direito de arrependimento nas "perguntas frequentes - modalidades de reembolso".

Peixe urbano: reiterou que não integra a cadeia de fornecimento, pois atua como prestador de serviço de publicidade e disponibilização de vouchers promocionais, esquivando-se da responsabilidade por eventuais problemas. Afirmou que checa todos os preços antes da publicação da oferta e que, no caso apontado pelo Idec, houve equívoco na informação prestada pelo fornecedor; e que não considera necessário informar sobre o direito de arrependimento, pois este está previsto no Código de Defesa do Consumidor.

Clickon: disse que apenas intermedeia a relação entre parceiro e usuário, e que, por isso, não pode ser responsabilizado por qualquer problema; e apontou que seus descontos são baseados no preço sugerido pelos parceiros, e que estes podem fazer promoção paralela à do site. O Clickon também informou que retirou a previsão de multa da cláusula sobre direito de arrependimento.

Groupalia: disse que a responsabilidade é dos fornecedores, quando estes são identificados. Informou ainda que após receber a notificação do Idec, enviou uma pessoa anônima ao restaurante mexicano, e esta confirmou que o valor integral do serviço era o mesmo da oferta, e não o informado ao Idec.


Para fazer boas compras

1. Só se cadastre em um site depois de ler seus termos de uso e sua política de privacidade. Antes de efetuar a compra, procure ler também as perguntas frequentes, que podem esclarecer eventuais dúvidas.

2. "Passeie" pelo site e analise várias ofertas antes de optar por uma. Isso ajudará a entender melhor a dinâmica do site.

3. Escolhida a oferta, repare se ela traz as seguintes informações ESSENCIAIS: preço integral, preço com desconto, percentual do desconto, quanto tempo falta para a promoção expirar, o número mínimo de compradores exigido e quantas pessoas já compraram.

4. Não compre por impulso. Leia as características do produto/serviço e as condições de compra a fim de se certificar de que elas atendem às suas necessidades (por exemplo: uma pousada disponível apenas nos dias úteis não interessa a quem trabalha e não pode tirar dias de folga).

5. Atente também para algumas restrições: agendamento prévio, horários e dias específicos, quantidade de acompanhantes, capacidade do local, estoque do produto etc.

6. Verifique se as informações de identificação da empresa que fornece o produto/serviço estão disponíveis. Acesse sua página virtual e procure por Termos de Uso, CNPJ, telefone e endereço físico, pelo menos.

7. Procure na página da empresa fornecedora o mesmo produto ou serviço anunciado com desconto no site de compras coletivas. Compare seu preço "normal" com o da oferta promocional.

8. Repare no prazo para a utilização do cupom de desconto. Ele pode variar de semanas a anos. Avalie se conseguirá utilizar o produto/serviço adquirido no período estipulado.

9. Se você se arrepender do cupom adquirido, poderá devolvê-lo em até sete dias e receber o dinheiro de volta, de acordo com o artigo 49 do CDC. Caso a empresa não informe sobre o direito de arrependimento, envie um e-mail ou preencha o formulário disponível no Fale Conosco, requisitando a devolução.

10. Procure saber se há taxa de entrega e se ela está inclusa no preço. Verifique também se há algum custo extra.

11. Caso não receba por e-mail a confirmação de que a oferta foi validada ou o aviso de não validação, depois de 24 horas, entre em contato com o site. E lembre que se o número mínimo de compradores não for atingido, o valor pago deve ser devolvido automaticamente.

12. Observe se o site estipula um tempo para que você imprima o cupom (24 horas, 72 horas etc.), se ele é enviado por e-mail para ser impresso a qualquer tempo ou ainda se é possível mostrá-lo no celular, smartphone ou tablet.

13. Não aceite, em hipótese alguma, qualquer tipo de discriminação ou diferença no tratamento por estar utilizando um cupom de desconto. Caso isso ocorra, recorra ao Procon ou à Justiça. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sou um carro a menos, até quando?

Em São Paulo, vivemos os efeitos colaterais de anos de insistência em uma falsa modernidade. Ficamos estagnados num American Dream, que nem mesmo americanos sonham mais. Somos uma cópia bizarra de uma Nova Iorque oitentista, e elegemos governantes pelos quilômetros de asfalto, elevados e túneis construídos.

Na modernidade oitentista, o ápice do consumo, o bem de maior desejo, a certificação de sua posição na pirâmide social, ainda é o carro. Aqui o carro ainda fala por você, ele informa o seu maior ou menor sucesso financeiro, e se nem um carro popular você consegue comprar – bem, aí você deve estar em algum lugar da base da pirâmide.

Logicamente, é dentro desta cultura que os governos constroem suas macro visões de planejamento urbano. Embora criar restrições para carros de passeio seja a forma mais eficaz de evitar que a cidade pare num congestionamento, os governos preferem restringir caminhões, ônibus, e construir 2 ou 3 viadutos como paliativo, garantindo, quem sabe, uma reeleição.

Então vêm as campanhas de conscientização no trânsito... A mais recente é, ao pé da letra, uma tragicomédia. Artistas contratados pela prefeitura de São Paulo satirizam as atitudes dos pedestres nos semáforos de maior movimento (cômico), e para o motorista, assistindo a tudo do camarote do seu blindado, fica a mensagem subliminar: Fora da faixa? Passe por cima! (trágico).

E se está ruim para o pedestre, imagine para o ciclista. Onde cabe o ciclista nesse turbilhão de automóveis e nesse vai e vem de pernas? Nas ruas, motoqueiros suicidas e motoristas estressados; nas calçadas, pedestres espremidos, aos tropeços...

A visão do poder público por aqui é a seguinte: bicicleta não é meio de transporte, e sim um aparelho de ginástica que, por um acaso, não fica preso no chão. Então aproveitaram uma estrutura já existente e criaram a ciclovia da Marginal Pinheiros, com apenas dois acessos. Portanto, para aqueles que se revoltam com ciclistas no meio dos carros na Marginal, achando que deveriam estar na ciclovia, aqui vai a informação: um acesso está distante cerca de 15 km do outro.

A novidade comemorada pela Prefeitura de São Paulo é a tal da ciclorota compartilhada. Por coincidência, também são 15 km de percurso – será algo cabalístico? – onde carros estão limitados a 30km/h e onde a sinalização indica que devem compartilhar o espaço com ciclistas. A tal ciclorota é algo permanente, ao contrário daquelas ciclofaixas que funcionam somente algumas horas aos domingos.

Trata-se de um avanço na Nova Iorque tupiniquim... Parece ser um embrionário reconhecimento da bicicleta, não apenas como forma de lazer, mas como meio de transporte. É embrionária, pois, embora tente integrar carros e bicicletas 24 horas, ainda assume conotação de mero lazer na medida em que não liga uma região residencial ao centro comercial. Trata-se, da mesma forma que o fiasco da Marginal Pinheiros, mais um aproveitamento, um improviso de gestão e planejamento, e ainda um desserviço: - Fora da ciclorota? Passe por cima!

De outra forma, o debate em torno desta ciclorota me fez pensar em outra coisa... Na medida em que o Código Nacional de Trânsito comporta, lado-a-lado, carros, motos e bicicletas, com regras bem definidas sobre distância entre estes, não seriam as vias urbanas, por natureza, compartilhadas? Isso significaria dizer que São Paulo acaba de criar os seus primeiros 15 km de via pública onde as leis de trânsito funcionarão!

Mais do que ciclo(vias, rotas ou faixas), o imperativo é a mudança da mentalidade na Nova Iorque oitentista. Isso porque a cultura do carro é tão fortemente arraigada na mente paulistana que até pedestres, de lá das calçadas, reprovam a ousadia da bicicleta que segue entre os carros. Mas evitar as calçadas foi exatamente a opção para respeitar o pedestre!

Já dos motoristas a reprovação vem na forma de xingamentos, buzinas insistentes, aceleradas estridentes, trancadas, “chega-pra-lás”, e até a proposital ultrapassagem a pouquíssimos centímetros de distância, muitas vezes em velocidades mortais.

Para estes, quando posso, retruco: eu poderia ser um carro a mais dentro do “seu” engarrafamento. Poderia estar exatamente bloqueando a sua frente...

Mas não, eu sou um ciclista, e na medida que sou um carro a menos acabo por beneficiar, especialmente, meus próprios algozes: os carros de passeio.

Por enquanto ainda tenho forças para continuar nesta luta inglória. Mas já tenho claudicado bastante. Quero continuar deixando meu carro na garagem, quero continuar sendo um carro a menos, mas não quero ser uma vida a menos no trânsito.

Kemel Amin B. Kalif: Agrônomo que não sabe plantar batata, mestre em zoologia/ecologia que não é biólogo, doutor em desenvolvimento sustentável onde se tornou esquizofrênico de uma vez por todas, pós-doutor em economia ecológica e rabugento de nascença.


sábado, 4 de junho de 2011

Produtos de origem animal: consegues evitá-los ?

No Brasil existe um ditado popular que diz “do boi, só não se aproveita o berro”. Há até quem diga que se considerarmos cantigas do nosso folclore, “até o berro do boi se aproveita”.
De fato, o número de produtos que são aproveitados de um abate bovino é muito grande. Além da carne aproveita-se o couro, o sebo, o sangue, os ossos, cabeça, chifres, cascos, vísceras, glândulas, rabo, pelos, etc... num sem fim de matérias primas com as mais variadas e inusitadas aplicações – Para quem duvidar, procure saber como é feita a inocente gelatina. O sebo do boi, por exemplo, encontra uma diversificação tão grande que mesmo para quem trabalha na área sempre há um espaço para se abismar – eu não sabia que até nisso tinha sebo de boi...
São tantos “pedaços” de boi espalhados por aí, tão presentes no nosso dia-a-dia, que dá até para pensar no boi como um ser onipresente, e talvez por isso seja até irrelevante saber se isso ou aquilo “usa boi” na sua cadeia produtiva. Mas essa onipresença é exatamente o que me leva a duvidar da existência de veganos. Ser um vegano requer um nível de informação quase impossível de se acessar na hora de consumir um produto, seja alimentício, seja de vestuário, de higiene, ou mesmo na hora de abastecer o seu automóvel.
Isso mesmo, a indústria química que se desenrola a partir de produtos de origem animal é extremamente diversificada e eu não quero, e nem saberia, com propriedade, falar sobre isso. Porém vale apena dizer que o emprego do sebo bovino na indústria de limpeza, higiene e de cosméticos, vai muito, muito, mas muito além da a produção de sabão e sabonetes. São cremes hidratantes, pastas de dente, shampoos, cremes de barbear, perfumes, até maquilagens... Mas se você não usa nada disso – pô, nem escova os dentes? Ah vá!– talvez você limpe sua casa ou suas roupas e novamente lá está o emprego do sebo bovino: detergentes, água sanitária, desengordurantes, desinfetantes, aromatizantes, amaciantes...
E o que dizer de alguém que, por uma válida e salutar preocupação ambiental, opta por transportes que utilizem apenas o biodiesel? Digo, continue usando, pois é bem melhor do que petróleo, mas você precisa saber que entre 10 a 20% do biodiesel nacional é produzido de sebo bovino.
Se isso não é suficiente para chacoalhar suas convicções “anti produtos de origem animal”, vai a informação: ácidos produzidos a partir de gordura animal, especialmente de bois, são empregados até na produção de plástico e de borracha, produtos impossíveis de você se livrar no seu dia-a-dia. E olha que foquei apenas no emprego do sebo bovino, não falei da farinha de osso, dos cascos, do sangue, das vísceras... – quem nunca tomou uma cápsula, seja remédio ou vitamina, industrial ou manipulado, químico ou fitoterápico? Sinto informar, mas novamente tem boi na área.
Mas também, deixe-me fazer uma correção. Não quero, em hipótese alguma, fazer disso uma crítica deliberada aos veganos, pois estes pelos menos procuram se informar sobre a composição dos produtos que consomem. A crítica aqui é à chatice natureba, aos fiscais da dieta alheia e, principalmente, a essa hipocrisia que distorce uma já combalida noção de sustentabilidade.
Em suma, não comer carne não isenta ninguém da contribuição para a miserável condição dos “animaizinhos”, muito menos de sua parcela de responsabilidade no desmatamento para formação de pastagens na Amazônia. Quer ser isento da utilização de produtos de origem animal? Não viva, não nasça, nem ao menos seja concebido.
Tarefa menos inglória do que a de eliminar tais produtos da sua vida – quase o suporte da sua existência – é a de exigir padrões socioambientais de produção. Isso se aplica não apenas aos bois, mas também a basicamente toda a produção agropecuária e, em muitos casos, em toda a cadeia produtiva envolvendo dada commoditie. Existem N padrões, e muitos outros “Ns” sistemas que tentam atestar, para o consumidor, que aqueles padrões de produção foram realmente adotados em dada mercadoria na prateleira de um supermercado. São as famosas certificações socioambientais.
Neste ponto, então, você precisa saber de outras coisas, tipo: existem rótulos de comércio, uns sérios, outros nem tanto, e que para saber se um rótulo destes é sério, procure verificar em que princípios baseiam sua credibilidade. A premissa básica deve ser a de que, em se tratando de comércio, ninguém que resolva corrigir a própria prova e que faça uma auto-avaliação, é sério.
Sistemas de certificação socioambiental, mesmo os problemáticos, devem ser estimulados, melhorados, premiados. Eles ajudariam até mesmo os naturebas, pois garantiriam que o algodão daquela camisa 100% vegetal que vestem, ou mesmo os cereais que consomem, não foram plantados, colhidos, confeccionados, tratados, manipulados ou transportados, por trabalhadores em condições indignas – as vezes com um berro bem mais alto que o dos bois.
Kemel Amin B. Kalif: Agrônomo que não sabe plantar batata, mestre em zoologia/ecologia que não é biólogo, doutor em desenvolvimento sustentável onde se tornou esquizofrênico de uma vez por todas, pós-doutor em economia ecológica e rabugento de nascença.