sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O ladrão faz a ocasião...


"Como grande parte da população brasileira, eu também já fiquei desempregado. Na época, depois de muitos "nãos", deixei de lado a formação acadêmica e um pouco de soberba, e passei a tentar emprego em áreas que eu não tinha o mínimo de conhecimento. Imagina no que teria dado? Se na minha área cometo mancadas, quais teria aprontado na área dos outros?"

Este foi meu relato numa grande roda de bar. Depois de algumas, qualquer besteira, desce mais uma, e os amigos, os amigos dos amigos, os conhecidos destes últimos, gargalhadas...

Alguém comentou: "o bom mesmo é cargo comissionado, não precisa nem ter formação, nem bater ponto, muito menos entender da coisa...".

Desce mais uma, outra porção de maminha... Teria muito a falar sobre aquele comentário, mas não conseguiria fazer isso sem constranger o interlocutor. Um sorriso amarelo, um concordo sem graça, o assunto tomou outro rumo...

O fato é que os tais cargos comissionados, de confiança, ou mesmo em outros regimes de contratação que não o concurso público, são garantidos para os políticos, seja nas esferas municipal, estadual ou federal, do legislativo ao executivo. Logicamente estes cargos são usados como moeda eleitoral, como formação de pequenas capitanias hereditárias, como favorecimento familiar, etc. Mas o grande problema é o fato de que são cargos almejados pelo cidadão como um prêmio, como uma oportunidade de altos salários e pouco trabalho, sinônimo de vida fácil.

Aqui se revela a parte mais promíscua da relação entre a sociedade brasileira e a política brasileira. O cidadão "comum" reclama do mal uso de seus impostos, mas não há problema se ele for o favorecido; já o homem público, um verdadeiro godfather em seu gabinete abarrotado de agregados, legitima e perpetua seu poder dentro da lei da vantagem pessoal.

O impulso contido em meu sorriso amarelo era a vontade de retrucar: de onde vêm os corruptos, senão da mesma sociedade que os condena? Neste ponto dá até para dizer: ao contrário do que se pensa, a classe política representa, de fato, o desejo da sociedade.


5 comentários:

  1. Escuto isso toda hora, todo mundo quer tirar vantagem e ninguém pensa que está sendo corrupto também. Ana

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  2. Kemel, sempre leio e gosto muito dos seus textos. Sou a Ana Albancherzzi e te conheci na reunião do greenpa sobre impactos da exploração do gás de Xisto. Lembra?

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  3. Esse Mário tá xavecando respeita aí seu moleque.

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