sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O xisto é nosso...


Em meio a corrida presidencial de 2010 havia um assunto espinhoso rolando. Era a proposta de alteração do Código Florestal Brasileiro, encabeçada pelo então Deputado Federal Aldo Rebelo do PC do B. Em campanha, Dilma afirmou que, se eleita, vetaria o que representasse impactos ao meio ambiente. A que impacto se referia, sobre "qual" meio ambiente falava, não se sabe... Rolou pra cá, rolou pra lá, um veto aqui, um remendo ali, quando enfim chegou o momento, Dilma sancionou. Não apenas sancionou, mas deu de presente para o palmeirense Aldo Rebelo um ministério, o dos esportes.

Contrário ao que havia sido apresentado pelo deputado do PC do B, estava, em peso, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciência (ABC), representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), pesquisadores das mais variavas universidades, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, e mais um zilhão de pessoas. Argumentos científicos apontando impactos ambientais resultantes da Lei, não faltaram. Cartas foram enviadas a presidência da república com posicionamento oficial da SBPC e ABC, coletas de assinaturas contrárias a Lei tomaram redes sociais e... nada!

Agora, mais uma vez a SBPC, ABC e sociedade civil, estão falando para as paredes... Em agosto de 2013, SBPC e ABC enviaram carta à presidente Dilma questionando, oficialmente, a precipitada decisão da Agência Nacional de Petróleo de incluir a exploração do gás de xisto numa licitação prevista para o fim de novembro. Até hoje, quase as vésperas do leilão, nenhum retorno da presidente foi dado à ciência brasileira.

O gás de xisto, ou shale gas, está aprisionado nas rochas de “folhelo”, abaixo do lençol freático. Para sua exploração é necessário utilizar imensos volumes de água para manter os canais de extração (poços) abertos. A água é injetada nos poços e pode ser depois retirada, mas a presença de cerca de 600 substâncias contaminantes impede sua reutilização, e também o seu descarte.

Os cientistas também apontam, o Brasil é completamente incapaz de determinar o impacto da exploração do gás de xisto, o que impede enquadramento de empresas em crimes ambientais. Não há como responsabilizar uma empresa por um eventual vazamento de contaminantes dentro de um aquífero subterrâneo, pois, simplesmente, não há um marco que determine a condição atual destes aquíferos. Outro ponto a se considerar na balança é que não existe tecnologia para recuperar/mitigar um dano sofrido por um aquífero. Isto posto, o impacto é maior em regiões dependentes de aquíferos subterrâneos, como o Nordeste, exatamente onde o governo pretende iniciar a exploração.

Mas parte dos 240 blocos de exploração a serem licitados está na Amazônia, mais especificamente no extremo oeste, na região do Acre. Não há gasodutos por lá e o escoamento precisará ser realizado por caminhões. A infra necessária pode ser faraônica e não se sabe o reflexo disso no preço do gás. Pesam também os efeitos que acompanham toda e qualquer obra realizada na Amazônia: especulação de terras, inchaço de cidades pelos canteiros de obra e aquecimento econômico local efêmero seguido de abandono e pobreza. Este cenário é ainda agravado pela característica itinerante desse tipo de exploração. A vida útil estimada de produção de gás por poço é de 2 anos. 

Nos EUA é uma moda. Lá chamam de "revolução do xisto" e praticamente todos os estados americanos exploram suas reservas. Mas a SBPC e ABC perguntam à Dilma, o que o Brasil vai fazer com água resultante da exploração e, especialmente, o Brasil realmente precisa de gás gerado de xisto? De fato há muitas coisas que o Brasil não precisa, uma delas é de um governo que fecha os olhos para o conhecimento científico. 


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