Vendo
grandes manifestações populares, sempre lembro deste trecho do “Poema de sete
faces”.
Gosto
de Drummond, e gosto das análises e especulações sobre como teria sido possível
mobilizar tantas pernas naquelas manifestações do meio do ano. Gosto, mas não
me arrisco nessa área, nem dos poemas, nem das causas das mobilizações. Arrisco
noutra, na área das consequências: no que resultará tanta perna, meu Deus?
As pernas, espremidas - não mais no bonde de Drummond, mas nos
atuais coletivos urbanos - reclamaram, uníssonas, da péssima qualidade
do transporte público. Em São
Paulo tal reclamação dilui-se entre prefeitura, que administra ônibus
urbanos, e o governo do estado, que administra metrô, trem e transporte
intermunicipal.
São Paulo capital concentra muitas pernas e, com elas, os grandes
desconfortos de um sistema de trasporte que não acompanha a demanda das pernas. São Paulo também tem o maior número de pernas que andam para votar: cerca de 18 milhões delas, ou
9 milhões de eleitores. Significa dizer que o desempenho de um prefeito aqui, pode ter reflexo no desempenho do seu
partido noutras esferas eleitorais.
Foi assim que os prejuízos políticos de um ano pré eleitoral
foram pesados e, bingo..! Os 12 milhões de paulistanos, com suas 24 milhões de
pernas, foram agraciados com a redução da tarifa de ônibus e, ainda, com o pretenso congelamento
desta tarifa.
Mas algo aconteceu entre as primeiras declarações do prefeito
Haddad em atenção às pernas das ruas, e o momento em que foi anunciada a redução da
tarifa. No auge das manifestações, Haddad havia declarado: era impossível
retroceder no preço do ônibus! Até concordei!
Afinal o aumento de R$ 3,00 para R$ 3,20 havia sido postergado em 2012 pelo então
prefeito Kassab - quem sabe para deixar seu impopular
mandato sem mais essa impopularidade!?
Mas eis que aqui aportou a trupe... Lula, Dilma e marqueteiro(s)
- estes com mais bocas do que pernas - reuniram-se com Haddad. O prefeito
voltou atrás e os tais 20 centavos foram eliminados. Sem dúvida não foi uma
reunião de mero convencimento de Haddad para "ceder" às ruas,
foi uma reunião de alinhamento da estratégia "presidentA 2014", com
marqueteiro(s) a tiracolo. O que se
desenhava ali naquela reunião em quarto de hotel chique de São Paulo?
Acalmados os ânimos, a "demagogia Robin Wood" petista
deu as caras. Manobras "esquisitas" na câmara de São Paulo tiraram as
pernas da oposição para aprovar o aumento do IPTU e, mesmo com liminar
contrária, o prefeito sancionou: Vamos aumentar o IPTU "dos ricos" e
reduzir o "dos pobres". Tudo para manter congelado o preço da
passagem sem desequilibrar as contas públicas. A Lei está sem efeito, mas muita
coisa ainda vai rolar...Por hora, deixa pra lá!
Paralelamente, não relacionado à liminar, mas talvez como parte
da estratégia desenhada naquele hotel no meio do ano, Dilma veio aqui
novamente. Dessa vez, aparentemente, com as própria pernas, não estava
acompanhada da trupe, mas sim de alguns bilhões para obras em mobilidade urbana
na metrópole.
Agruras petistas devidamente transformadas em oportunidade!
Super mérito! O projeto aqui tem tríplice caráter: “presidentA 2014”,
“Padilha SP” e, claro, eliminação do tucanado. Não por menos os marqueteiros
estão sempre por perto, não por menos nunca se investiu tanto em autopromoção.
Que joguem-me as pedras... Mas, se por um lado
a efervescência elevou o senso crítico colocando muitas pernas, ouvidos e
bocas, nas ruas, por outro, sua característica ad hoc tem gerado efeitos deletérios. Terá
sido apenas uma horda revoltosa, um aglomerado de pernas que, pela necessidade de
expressar um descontentamento generalizado teria, assim, um efeito agregador e
multiplicador? Porque não se consegue mais mobilizar quantidade semelhante de
pernas? Ok, ok... Não me arriscaria na área das causas, certo?
Na verdade, talvez seja prudente não me arriscar nem na área das
consequências! Afinal, as causas e consequências de 2013 serão sempre
revisitadas, e seu reflexo para as eleições de 2014 dependerá, talvez, de quantas pernas a trupe tiver para investir nas bocas dos seus marqueteiros.
No final de tudo, "...O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta
perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam
nada..."
Gostei, muito legal.
ResponderExcluirJ.Krauser
Se não for o IPTU vão aumentar outro imposto. Alguém tem que pagar a conta. Amanda
ResponderExcluirUma cambada de ladrões isso sim.
ResponderExcluirSe elege e vira de costa pro povo que votou neles.
E o pessoal não vai mas para ruas pois só querem tudo bonito funcionando.
Esse Brasil está na porcaria mesmo