sábado, 29 de outubro de 2011

O cinza que queria ser verde

Tenho impressão que a Prefeitura de São Paulo quer lutar contra o estigma da cidade de concreto, e de horizonte acinzentado.

Para cortar ou podar uma árvore em São Paulo é preciso autorização da subprefeitura responsável pela região. Não estou falando de propriedades rurais, estou falando do ambiente urbano mesmo.

Do ponto de vista da qualidade de vida, são inquestionáveis os benefícios da manutenção de árvores no ambiente urbano. Do ponto de vista da segurança, faz sentido, já que o corte requer medidas de segurança que, certamente, não serão adotadas pelo “Seu Fulano”, o jardineiro do vizinho. Agora, do ponto de vista prático... – Iiiih !

Conseguir uma autorização dessas é difícil, mas não porque a importância da árvore é tamanha que a justificativa para seu corte ou poda deva ser boa. Simplesmente porque as subprefeituras não respondem, o que expõe a morosidade e o formalismo burocrático dos órgãos públicos. - É o velho papo: criamos legislações avançadas, mas que não funcionam devido a inoperância estatal.

Isso é tragicômico para quem trabalha, há mais de 20 anos, com questões ambientais, como eu... Sabemos que São Paulo é o principal mercado consumidor das commodities da Amazônia e, conseqüentemente, é a principal força matriz do desmatamento que ocorre por lá.

Por exemplo, o maior consumidor da madeira nativa e da carne bovina produzida na Amazônia é São Paulo. Produzir madeira, não necessariamente significa desmatar, mas a principal causa do desmatamento na Amazônia é a derrubada da floresta para formação de pastagens, para a produção de carne, e grande parte da madeira da Amazônia que SP consome é proveniente de áreas que foram derrubadas ilegalmente para formação de pastagens. - Sacou ?

Mas o que importa é a cidade manter um número x de árvores, e as prefeituras e secretarias de meio ambiente venderem o peixe da lição de casa feita: “No meu governo aumentou em x% a área verde da cidade...”. Assim, o paulistano que, literalmente, come vários hectares de floresta por ano, pode se sentir “ecologicamente correto” ao saber que é preciso de autorização para se livrar daquela maldita árvore que está quebrando sua calçada.

Pois é, não há limites para a hipocrisia...

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