Outro dia um fictício alguém disse para o amigo,
num ônibus lotado, que para votar de forma consciente, responsável, tem que
escolher bem o candidato.
O amigo - um personagem que criei para um
concurso de contos uns tempos atrás - ficou pensando: Como se escolhe bem um
candidato? O que é considerado escolher bem?
O nome desse cara era Marca-passo, não por
possuir um, mas por sua obsessão em quantificar as coisas, em torná-las parâmetros
palpáveis, em tentar ler, objetivamente, o mais subjetivo dos assuntos.
Embora esse cara nunca tenha participado de algum
conto lido por mais de dez pessoas, gosto de como ele foi construído. Mas isso é outro assunto... Tenhamos, para esse diálogo, um fictício alguém e ele, o
reducionista Marca-passo, também fictício porém vivo, ao menos num arquivo de
computador com mais de 20 anos de idade.
Antes que Marca-passo pudesse falar, seu fictício
interlocutor completou: - Para escolher bem qualquer coisa é preciso conhecer
bem esta coisa!
Ok, faz sentido, pensou Marca-passo... Mas a
explicação gerava outra dúvida, a qual ele externou após um aceno positivo com
a cabeça:
- Mas qual o nível de conhecimento que pode ser
considerado suficiente para uma boa escolha?
- Você tem que se informar, conhecer bem seu
candidato - Respondeu, enfático, o interlocutor.
- Mas como podemos conhecer bem uma pessoa se nem
os familiares a conhecem bem?- Devolveu, Marca-passo.
- Você tem que ler os jornais, buscar
informações.
- Mas como ter certeza que as informações são
verdadeiras?
- Tem que ter fontes confiáveis.
- O que determinar se uma fonte é confiável?
- Escute, te garanto que o Jornal
"BizuBizu" e a Revista "Tralálá" são confiáveis.
- Mas estes só falam bem do seu candidato! -
Provocou, Marca-passo.
- Por isso que elas são confiáveis! - Respondeu o
interlocutor, irritado, e desceu do ônibus resmungando sobre a ignorância do
amigo.
Marca-passo desceu no ponto seguinte, andou sem
contar seus passos - o motivo de seu apelido - e não lhe saiam da cabeça as
inúmeras variáveis que deveriam ser consideradas para responder as perguntas
que ele fizera ao interlocutor.
Depois de muito pensar, e depois de um tropeço na
guia e de um quase atropelamento, concluiu que tinha em suas mãos uma pergunta
cuja resposta era infinita. Por mais variáveis que pudesse coletar para julgar
a confiabilidade de uma fonte, por mais fontes "confiáveis" que
tivesse para obter informações, por mais informações "verdadeiras"
que obtivesse para conhecer alguém, por mais "conhecimento" que
tivesse para uma "boa escolha", uma única evidência contrária poderia
tornar o seu voto um voto "irresponsável"!
Em sua obsessão descobriu que parametrizar o que
é errado é mais fácil do que parametrizar o que é certo... Se questionou: o
mesmo grau de dificuldade para dizer o que é certo deveria existir para dizer o
que é errado, pois isso seria esperado de coisas que são opostas, como a claridade
e a escuridão, como o que é grande e que é pequeno, como para frente e para
atrás, como sim e não... Porque diabos o certo e o errado não são opostos
perfeitos?
Pensou no seu interlocutor do ônibus, um cara que
votaria no Beltrano - o candidato do partido dos XYZs, o qual representava os
interesses dos Fulanos. Descobriu que só discordava do interlocutor do ônibus
pelo mesmo motivo que este discordava dele, e que este motivo era, na verdade, a
única variável que não poderia ser considerada na inglória tarefa de dizer o
que é ou não é um voto consciente: o fato de o voto ser para um candidato que
não era o dele.
Pensou, pensou...
Voltou a contar os passos.
Porisso que o Brasil é essa porcaria que sempre foi. É porque tem gente que merece a situação ruim porque vota só em gente ruim
ResponderExcluirE é você que sabe o que é ruim ? Só pode ser um Dilmista esse babaca.
ExcluirNão so não Décio. E voce vota em quem?
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